Análise do conto "Teoria do Medalhão"de Machado de Assis.
O conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis, começa com uma conversa aparentemente singela entre pai e filho.
O rapaz está a uma hora de completar 22 anos, e o pai, afirmando desejar o melhor para o filho, começa a dar alguns conselhos ao jovem, que está começando sua vida profissional.
Os ritos de iniciação estão presentes em todas as sociedades, das mais simples às mais complexas, e é marcado pelo momento em que o indivíduo passa a assumir um papel na sociedade.
É comum também que no processo de passagem para a vida adulta os jovens recebam conselhos dos mais velhos, em muitos casos de seu próprio pai.
O arquétipo do pai/mentor é comum em contos de fadas e em fábulas. Quando o personagem principal acata os conselhos de seu mentor, as coisas dão certo. Já quando o protagonista não segue os conselhos tudo dá errado.
Tendo em vista o arquétipo do pai/mentor, o conto Teoria do Medalhão ganha contornos de sátira no momento em que o pai, após afirmar ao filho que ele, por ser jovem, tem um amplo leque de opções, sugere ao rapaz um plano B caso suas ambições dêem errado, e explica ao filho o modelo de vida do Medalhão.
Mas o que vem a ser um Medalhão? Pelas palavras do pai descobrimos que o Medalhão é um sujeito que não possui ideias próprias, apenas repete as opiniões em voga, só comenta banalidades e busca a todo custo o aplauso fácil de sua audiência.
Contudo, o Medalhão é acima de tudo um sujeito raso, que precisa esconder sua superficialidade com uma afetação de erudição pinceladas por citações famosas, expressões em latim e expressões consagradas.
Portanto, Teoria do Medalhão, de Machado de Assis, é ao mesmo tempo uma crítica e um retrato da classe falante brasileira. Machado de Assis é um autor da segunda metade do século XIX e início do século XX, mas o fenômeno que ele satiriza em seu conto está ainda vivo na nossa sociedade atual.
O próprio ambiente cultural brasileiro estimula o comportamento Medalhão, principalmente em ambientes de maior nível intelectual.
Nas universidades, discordar do pensamento reinante de esquerda é o caminho perfeito para ser alvo de hostilidades, ou, na melhor das hipóteses, a solidão.
Na grande mídia brasileira nem se fala. Ler uma notícia de um jornal é como ler a de todos os outros, tamanha é a hegemonia ideológica na grande mídia brasileira. A propósito, se você deseja saber como funciona a imprensa, eu recomendo a leitura de Memórias do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, um escritor contemporâneo a Machado, que enfrentou os Medalhões de sua época e pagou caro por isso.
As redes sociais, por sua vez, reforçaram o comportamento do Medalhão. Basta rolar o feed do Instagram por alguns segundos para encontrar sujeitos bem vestidos, com a fala empostada, tentando vender para você o plano para você ter a vida perfeita como a deles, ser um intelectual como eles, ou só para cagar regra mesmo. As redes sociais realizaram o sonho do pai no conto Teoria do Medalhão ao transformar o ofício de Medalhão em uma profissão lucrativa.